Espanha e França 2018
Dia 42 (12 de Junho de 2018)
(Coquelles – Calais - Bergues)
A noite foi muito ventosa e o céu
apresenta-se totalmente nublado e está frio.
Neste
parque de estacionamento destinado às autocaravanas, pernoitaram cerca de 30
autocaravanas.
Após o pequeno-almoço saímos com
destino a Calais onde chegámos por volta das 9,00 horas.
Em Calais estacionei numa avenida
à entrada para o porto e como estava próximo do Parque de Campismo Municipal Le
Grand Gravelot, fui solicitar umas informações e amavelmente forneceram um mapa
e algumas informações turísticas.
Este parque de campismo tem uma
AS para as autocaravanas ao lado do parque e os valores ali praticados são de
10 € por um período de 24 horas e 2 € por 100 litros de água. Os despejos de
águas sujas e cassete são gratuitos e abertos a qualquer autocaravanista que
queira utilizar.
Calais é uma cidade localizada no
norte da França, no “Estreito de Dover”, no ponto mais estreito do “Canal da
Mancha” com apenas 34 kms de largura, no departamento de “Pas-de-Calais, da
região administrativa de ”Altos da França”, “Hauts-de-France” e é a cidade
francesa mais próxima de Inglaterra.
A região “Altos de França” faz
fronteira com a Bélgica no nordeste, Canal da Mancha no noroeste com as regiões
francesas de “Grande Leste” no sudeste, “Ilha de França” no sul e “Normandia”
no sudoeste.
A cidade de Calais sempre foi um
ponto estratégico militar muito importante e é considerado o primeiro porto de
passageiros da França pelo que a vida desta cidade gira em torno do seu porto.
Durante a Segunda Guerra Mundial,
a cidade de Calais foi um objectivo chave das tropas alemãs, pois estas em Maio
de 1940, nos dias 22 a 27, sitiaram a cidade, naquele que é conhecido como “O
Cerco de Calais” e, após intensos combates, a guarnição militar Aliada de
Calais ficou sem munições e rendeu-se à 10ª Divisão Panzer das tropas alemãs.
Mais de 3.500 soldados britânicos
e franceses foram capturados mas a sua brava resistência serviu para manter a
10ª Divisão Panzer das tropas alemãs afastada de Dunquerque o que foi crucial
para a evacuação das tropas aliadas naquela que é conhecida como a “Operação
Dynamo”.
Os alemães consideravam que a
zona de “Pas-de-Calais” seria a zona de desembarque inicial mais provável na
ofensiva desencadeada pelas tropas Aliadas, pelo que esta zona foi mais
fortemente fortificada e concentrava também um número muito grande de tropas
alemãs.
Antes dos desembarques do “Dia
D”, os Aliados criaram várias operações falsas de modo a criar uma estratégia
destinada a enganar as tropas alemãs quanto à data e a localização dos
principais desembarques dos Aliados. Por isso Calais foi fortemente bombardeada
pelas tropas Aliadas de modo a interromper as comunicações alemãs e persuadi-los
de que os Aliados atacariam em “Pas-de-Calais” para o início da invasão ao invés da Normandia como efectivamente
aconteceu.
Todos estes bombardeamentos
arrasaram a cidade de Calais, pelo que praticamente foi preciso reerguer a
cidade a partir das suas ruínas.
A cidade apresenta uma estrutura
muito peculiar pois os canais dividem-na em duas partes: a parte velha da
cidade, chamada de “Calais-Nord” que se encontra situada em uma ilha artificial
rodeada por canais e portos, e a nova cidade que é chamada de “Calais-Zud”,
sendo precisamente aqui que se encontram localizadas as principais ruas
comerciais.
Calais perpetua a tradição da
“renda de Calais” com a criação de vestidos e lingerie e com peças notáveis de
coleção e criações de alta-costura.
Apenas como curiosidade referir
que o vestido de noiva de Kate Middleton foi feito precisamente com essa renda.
“A Cidade Internacional da Renda
e Moda” é um museu dedicado principalmente à história do laço tecido em metais
mecânicos.
Depois de estacionados
percorremos a pé este trajecto, de cerca de 25 minutos, até ao centro da cidade,
mais precisamente até à Praça de Armas “Place D’Armes” que é uma das maiores
praças da cidade de Calais e que durante os tempos medievais foi o coração da
cidade.
A Torre de Vigia de Calais, “La
Tour du Guet de Calais”, ou como é designada de “A Sentinela de Calais”,
encontra-se localizada em Calais-Nord, na “Place D’Armes, é um dos poucos
edifícios remanescentes da pré-guerra e é o monumento mais antigo de Calais. A
sua origem remonta ao século XIII, onde foi o sistema defensivo de Calais
fortificada, com o papel de vigiar e prevenir perigos.
Com os seus 35 metros de altura,
esta torre era o centro de um castelo medieval.
Esta torre abrigou vigias até ao ano
de 1905, os quais, em tempos de guerra, supervisionavam as costas e o movimento
das tropas.
Esta torre serviu que resistiu às
bombas que a cidade de Calais sofreu durante a segunda guerra mundial, foi usada como um posto
militar, torre de observação e vigia, farol e também como suporte para um
telégrafo óptico.
Por questões de segurança não é
possível visitar a torre.
A Torre de Vigia de Calais, “La
Tour du Guet de Calais”, ou como é designada de “A Sentinela de Calais”,
encontra-se classificada como Monumento Histórico.
Continuámos a nossa visita até ao
edifício da Câmara Municipal, “Hotel de Ville” que se encontra localizada no
coração da cidade de Calais. Esta construção de estilo neo-flamengo, com um
campanário de 75 metros de altura, foi iniciada no ano de 1912 e simboliza a
união entre duas cidades, Calais e Saint-Pierre.
Todas as fachadas e telhados da
rua e do campanário, a sala de honra e seu dossel, a escadaria principal, o
corredor de serviço do primeiro andar, as salas cerimoniais com decoração do
primeiro andar que são o salão de festas, o salão de honra, o sala de estar do
conselho municipal e o gabinete de estado, encontram-se classificadas como
Monumentos Históricos.
O Campanário encontra-se
classificado como Património Mundial da Unesco.
"Hotel de Ville" de Calais, França |
Em frente ao edifício da Câmara Municipal, “Hotel de Ville” encontra-se a escultura em bonze de os “Burgueses de Calais”, “Les Bourgeois de Calais”. A escultura evoca uma ocorrência durante a “Guerra dos Cem Anos”, quando Calais, um importante porto francês no “Canal da Mancha” ficou sob cerco dos ingleses. A história narra o patriotismo e a coragem de seis dos seus mais ilustres cidadãos da cidade de Calais, que se ofereceram voluntariamente como reféns ao rei Eduardo III de Inglaterra, para que levantasse o cerco da cidade e salvasse assim as populações que se encontravam já famintas.
Esta é uma das mais famosas
esculturas de “Auguste Rodin” em que ele pretende retratar as expressões
dolorosas dos rostos destes mártires quando abandonavam a Praça do Mercado a
caminho da execução.
Escultura de Auguste Rodin, "Os Burgueses de Calais" e ao fundo
o "Hotel de Ville" de Calais, França
|
Em seguida passámos pelo Parque
Saint-Pierre que foi inaugurado em 1863. Este parque com as suas árvores
centenárias e áreas de lazer para crianças, também tem sido utilizado como
palco de diversas actividades, festivais, concertos, corridas de bicicletas,
etc.. Ao centro uma bacia com uma fonte em bronze, “Fonte das Três Graças”, que
é uma réplica de uma bacia de Versalhes.
Fonte "Das Três Graças" no Parque Saint Pierre, em Calais, França |
Fonte "Das Três Graças" no Parque Saint Pierre
em Calais, França
|
O “Teatro de Calais “ construído
em 1903 e inaugurado em 1905, encontra-se localizado na Praça Albert I, num
terreno que era o antigo cemitério de Saint-Pierre. Na sua fachada, no primeiro
andar encontram-se estátuas que representam os temas de artes cénicas de
Poesia, Comédia, Dança e Música. No segundo andar quatro bustos perpetuam a
memória do compositor Pierre-Alexandre Monsigny e dos dramaturgos Alain-René
Lesage, Guillaume Pigault-Lebrun e Pierre de Belloy.
Quando
abriu, o teatro continha 1390 lugares divididos em quatro galerias. Tem 52
metros de comprimento e 27 metros de largura.
A Igreja de Notre-Dame de Calais construída
em finais do século XIII, com elementos da arquitectura flamenga, gótica,
anglo-normanda e tudoriana é uma igreja consagrada a Nossa Senhora.
O "Teatro de Calais" em Calais, França |
O "Teatro de Calais" em Calais, França |
A igreja tem sido visitada por
muitos governantes mas as três cerimónias que marcaram a sua história mais
recente são certamente os funerais nacionais das vítimas do submarino
“Pluviôse” em 1910, o casamento do General Charles de Gaulle e Sua esposa
Yvonne Vendroux em 1921 e a coroação do Monsenhos Evrard, bispo de Meaux em
1937.
Não foi possível visitar a igreja
dado estar fechada.
A Igreja de "Notre-Dame se Calais" em Calais, França |
Estátua do "General Charles de Gaulle" e de
"Winston Churchill" no jardim Richelieu em Calais, França
|
Após o almoço fomos novamente ao
Parque de Campismo Le Grand Gravelot para fazer a manutenção das águas da
autocaravana (2€) e após saímos com destino a Bergues onde chegámos por volta
das 15 horas.
Em Bergues estacionámos no parque
destinado às autocaravanas, parque gratuito, e no qual já se encontravam 8
autocaravanas.
Bergues é uma
pequena vila fortificada cercada por muralhas e canais e encontra-se situada na
planície flamenga, a 9 kms das praias arenosas de Dunkerque-Malo-les-Bains e a
15 kms da fronteira da Bélgica, no departamento “Nord” da região administrativa
de “Altos de França”.
As muralhas, com
cerca de 5.300 metros de comprimento encontram-se bem conservadas na sua quase
totalidade. Estas muralhas apresentam ainda 5 portas / portões de acesso: A “porta
Bierne”; a “porta de Cassel”; o “portão Dunquerque; a “porta de Hondschoote” e
a “porta para as Bolas”.
Bergues havia
sido devastada pelos bombardeamentos na “Primeira Guerra Mundial” e, também na
“Segunda Guerra Mundial”, em 1940, durante a “Batalha de Dunquerque” foi novamente
devastada em cerca de 80%.
Muralhas na vila fortificada de Bergues, França |
Muralhas na vila fortificada de Bergues, França |
Muralhas na vila fortificada de Bergues, França |
"Torre de Couleuvriniers" nas muralhas da vila fortificada de
Bergues, França
|
"Porta de Hondschoote" nas muralhas de vila fortificada de
Bergues, França
|
"Porta de Cassel" nas muralhas da vila fortificada
de Bergues, França
|
A vila de
Bergues ficou mundialmente conhecida por ter sido cenário do filme francês
“Bienvenue chez les Ch’tis”. Este filme que bateu recordes de bilheteira em
França, é referido como tendo sido o início e principal motivador do
desencadeamento do chamado “boom” do turismo nessa vila.
A vila de
Bergues encontra-se classificada na listagem das aldeias de carácter de França
e faz também parte do percurso das “Estradas das Vilas Fortificadas” de França.
Depois de instalados fomos ao
Posto de Turismo solicitar mapas e informações turísticas. Nesta viagem foi
apenas aqui em Bergues que no Posto de Turismo solicitaram o pagamento pelo
mapa turístico, preço simbólico de 0,50 €.
O mapa turístico de Bergues
apresenta um percurso pormenorizado de 3 Kms e com uma duração de 1,30 horas.
O Posto de Turismo encontra-se
localizado no edifício do campanário que é precisamente o edifício mais
imponente da vila.
O campanário de Bergues, do
século XIII que foi novamente reconstruído no ano de 1961, já que havia sido
parcialmente destruído durante a Segunda Guerra Mundial, tem 47 metros de
altura e apresenta um carrilhão com 50 sinos.
Ao longo dos séculos o campanário
teve diferentes funções, desde “Portão da Vila”; como “Sentinela”, pois dois
vigias moravam no telhado e tinham como função observar e vigiar a vila e seus
arredores de possíveis inimigos e incêndios e finalmente também ali funcionou a
“Prefeitura”. Actualmente apenas mantém a função de torre de sinos.
O campanário de Bergues
encontra-se classificado como Património Mundial da Unesco.
Não foi possível aceder ao
campanário já que o mesmo se encontrava em obras de manutenção, quer
interiormente quer exteriormente.
Vista do edifício "Campanário" em Bergues, França |
Em frente do campanário mas do
lado oposto da praça encontra-se o edifício da “Câmara Municipal de Bergues”,
“L’Hôtel de Ville de Bergues”. Este edifício de estilo flamengo renascentista e
também com influências egípcias apresenta as suas fachadas ornamentadas com
obeliscos e arabescos. Este edifício tem como particularidade a sua cor em tons
de cinza azulado (pedra azul de “Soignies” e pedra cinza de “Marquise”), já que
a cor predominante da vila é a cor amarela.
Outra particularidade
interessante é que este edifício ficava localizado à esquerda da praça, na rua
de “L’Hôtel-de-Ville” e no século XIX decidiram movê-lo, desmontando pedra a
pedra e colocando-o de frente para o campanário, no local onde hoje se
encontra. Infelizmente com estas obras a edifício perdeu a sua parte gótica,
mantendo apenas a sua parte flamenga.
Continuámos a nossa visita até à
“Igreja de São Martinho”, “Église Saint Martin”, do século X. Esta igreja faz
parte do grupo de igrejas góticas de tijolos no norte de França, característico
da arquitectura flamenga. Esta igreja durante os tempos sofreu várias
devastações (Guerra das Religiões e bombardeamentos e incêndios durante a
Segunda Guerra Mundial) e reconstruções, mas finalmente foi totalmente
reconstruída no ano de 1959.
"Igreja de São Martinho" em Bergues, França |
Nave e altar-mor da "Igreja de São Martinho" em Bergues, França |
Altar-mor da "Igreja de Dão Martinho" em Bergues, França |
Pia baptismal da "Igreja de São Martinho" em
Bergues, França
|
A "Virgem Negra" na Igreja da "São Martinho"
em Bergues, França
|
No interior da igreja encontra-se
uma exposição sobre a história da igreja a sua destruição e reconstrução.
A Igreja encontra-se classificada
como Monumento Histórico.
O “Mont de Piete” é uma antiga
casa de penhores construída entre 1629 e 1633, de estilo barroco flamengo, em
tijolo rectangular elegantemente adornado com janelas encimadas por arcos.
Este edifício encontra-se
classificado como Monumento Histórico.
Nesta antiga casa de penhores,
“Mont de Piete” encontra-se instalado o Museu de Bergues, denominado Museu de
França e o qual apresenta ricas colecções de pinturas e desenhos do século XVI
ao século XIX, bem como uma colecção de história natural.
Não foi possível visitar o museu
dado o mesmo se encontrar fechado.
Vista do edifício "Mont de Piete" em Bergues, França |
Vista do edifício "Mont de Piete" em Bergues, França |
A “Torre Quadrada” e a “Torre
Pontiaguda” são os únicos vestígios da Abadia Beneditina de “Saint- Winoc”, de
estilo gótico do século XI. Esta Abadia ao longo dos séculos foi muito fustigada
por guerras, incêndios e inclusive foi saqueada. Durante a Revolução Francesa
as tropas expulsaram os monges e os bens da Abadia foram dispersos por várias
localidades. Da rica biblioteca ali existente com cerca de 60.000 volumes,
muitos foram perdidos e os livros mais belos foram reservados para as
bibliotecas comunitárias de Bergues, Dunquerque, Bourbourg e Gravelines. As
pinturas foram espalhadas pelos museus e igrejas próximas, mas muitos obras de
arte desapareceram.
A “Torre Quadrada” encontra-se
classificada como Monumento Histórico.
A "Torre Quadrada" e a "Torre Pontiaguda" da Abadia Beneditina
de "Saint-Winoc" em Bergues, França
|
A "Torre Quadrada" da Abadia Beneditina de "Saint-Winoc"
em Bergues, França
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A "Torre Pontiaguda" da Abadia Beneditina de
"Saint-Winoc" em Bergues, França
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A "Porta de Marbre" vendo-se ao fundo a "Torre
Quadrada" e a "Torre Pontiaguda" da Abadia Beneditina
de "Saint-Winoc" em Bergues, França
|
A vila de
Bergues apresenta um património muito rico, muitas casas antigas com belas
fachadas ou frontões, muito bem conservadas.
Bergues com a
sua diversidade, o seu charme e o ambiente criado pelos seus canais é também
referenciada como “os outros Bruges na Flandres”.
Percurso de
Coqueles a Calais, 6 Kms
Percurso de
Calais a Bergues, 55 Kms
Percorridos no
dia 61 Kms
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