Espanha e França 2018
Dia 10 (11 de Maio de 2018)
(Bordéus – Saint Émilion - Blaye)
De manhã efectuámos a manutenção
da cassete da autocaravana e saímos por volta das 8,20 horas do parque de
campismo com destino a Saint Émilion. Ali chegados por volta das 09,30 horas,
fomos ao Posto de Turismo solicitar informações turisticas bem como mapas.
Saint Émilion é uma vila medieval
que se situa no departamento francês de Gironda, localizado a pouco mais de 40
Kms de Bordéus, rodeada de milhares de hectares de vinhedos. Saint Émilion é
mundialmente conhecida pelos seus vinhos especialmente o “Grand Cru”. Desde
Dezembro de 1999 que Saint Émilion se encontra inscrita na Lista do Património
Mundial da Unesco como uma “paisagem
cultural”. Para a Unesco, Saint Émilion é um exemplo notável de uma paisagem
vitícola histórica que sobreviveu intacta.
Mas Saint Émilion também possui
um património histórico e arquitetónico considerável, como a sua igreja
monolítica, pedreiras subterrâneas, muralhas, as portas de entrada na cidade
medieval, ruas estreitas e inclinadas em pedra, e muito mais. A vila tem as
suas casas bem preservadas com a calçada antiga e podemos ver lojas de vinho,
artesanato, bares e restaurantes que dão um certo encanto e que proporcionam a
delícia aos imensos turistas que a visitam.
A nossa visita começou precisamente à saída do Posto de Turismo, na Praça do Campanário, com a vista impressionante da torre de sino, com cerca de 68 metros de altura e de base romana e corpo gótico e que foi posteriormente adicionada entre os séculos XIII e XV à igreja monolítica. É possível subir os 196 degraus da torre do sino bastando para tal adquirir os respectivos bilhetes de acesso no Posto de Turismo e dali poder desfrutar de uma vista impressionante sobre a vila e a imensidão de vinhedos que se encontram ao redor.
Torre do sino da Igreja Monolítica de Saint Émilion, vista da Praça do Campanário |
Torre do sino da Igreja Monolítica de Saint Émilion, vista da Torre do Rei |
Seguidamente fomos até á Torre do
Rei “La Tour du Roi” construída no século XIII e localizada dentro das muralhas
da vila e que mede 32 metros de altura desde o terraço mais baixo até ao cume.
Esta Torre encontra-se implantada
sobre um rocha e é o que resta de uma torre de menagem do castelo que ali
existiu. Não foi possível efectuar a visita à torre porque a mesma se
encontrava fechada.
Torre do Rei em Saint Émilion |
Vista de Saint Émilion desde a Torre do Rei |
Atrás da torre do rei encontra-se
o Convento das Ursulinas “Convent des Ursulines”. O convento do século XVII foi
fundado pelas irmãs Ursulinas que tinham como principal objectivo oferecer
educação gratuita ás meninas das classes mais pobres. As irmãs foram expulsas
durante a Revolução Francesa, mas na fachada do que sobrou do prédio ainda se
lê “Le Convent”, convento em francês.
No entanto hoje em dia a memória
dessas freiras ainda está bem presente na vila graças à receita secreta dos
bolinhos redondos, deliciosos e suaves, conhecidos como “macarrons”, e também
pelos doces aromas de amêndoas grelhadas.
Convento das Irmãs Ursulinas em Saint Émilion |
Descemos depois até aos
Lavadouros “Les Lavoirs” que foram construídos no século XIX. Estes lavadouros
públicos nos quais as lavadeiras vinham ali lavar as roupas, eram constituídos por dois espaços/lavadouros diferentes. O maior era coberto e destinado para os
bairros mais ricos, sendo o segundo lavadouro mais pequeno e sem cobertura e
era destinado para os bairros mais populares de modo a evitar a mistura das
suas águas.
Actualmente estes lavadouros
encontram-se muito bem preservados e conservados.
Lavadouros em Saint Émilion |
A Porta e a Casa do Cadène seriam
possivelmente uma porta de domínio defensivo dentro da própria vila e também
para proteger e separar a vila alta da vila baixa.
Porta e Casa do Cadène em Saint Émilion |
A Chegada dos frades Franciscanos
a Saint Émilion foi no início do século XIII. Os frades Franciscanos são mais
conhecidos na França medieval sob o nome de “Cordeliers” por causa da corda das
suas vestes que servia de cinturão. Contudo, durante a revolução francesa os
religiosos foram expulsos e o mosteiro foi vendido em mau estado como
propriedade nacional em 1791. Quase um século depois, os proprietários
decidiram utilizar a propriedade para começar a produzir espumante e
transformar o subsolo em cave.
No ano de 2005 foi classificado
como Monumento Histórico.
Passámos em seguida pela
porta/portão Brunet, classificado como Monumento Histórico, que era uma das seis portas defensivas de acesso à vila
medieval e que existiam nas muralhas construídas ao redor da vila com cerca de
1,5 Kms de comprimento.
A maioria da antiga fortificação
de Saint Émilion e respectivas portas, com excepção da Porta Brunet, foram
destruídas durante as guerras religiosas no século XVI e posteriormente no
século XIX com o avanço da rua Guadet e o desejo para abrir a vila ao tráfego
moderno.
Porta Brunet em Saint Émilin |
Porta Brunet em Saint Émilin |
A “Grande Muralha”, assim
conhecida desde o século XIX é uma majestosa ruína do que resta do mosteiro
medieval Dominicano do século XII que ali existiu. Com a guerra dos 100 anos os
monges dominicanos tiveram de abandonar o mosteiro e a igreja que entretanto foram
destruídos.
A "Grande Muralha" em Saint Émilion |
Depois do almoço fomos efectuar a
visita já programada à Igreja monolitica e ás catacumbas bem como à Ermida de
Saint Émilion. Os bilhetes de acesso a esta visita guiada foram adquiridos no
Posto de Turismo e custam 9 € por pessoa e as visitas são comentadas apenas em
Francês ou Inglês.
A visita guiada começa
precisamente na gruta onde viveu como ermita o monge Saint Émilion. Mas afinal
quem é Saint Émilion?
Saint Émilion nasceu na Bretanha
em Vannes e trabalhava como intendente do conde e como tal gozava de alguns
privilégios. Aproveitando-se dessa situação ele roubava pães na cozinha do
castelo para distribuir pelos pobres. Certo dia o conde o surpreende e
pergunta-lhe o que ele levava escondido sob o manto. Ele responde que é lenha e
quando o conde vai verificar de facto encontrou lenha em vez de pão. Este foi o
primeiro milagre de Émilion em que o pão se transforma em lenha. A partir desta
altura ele torna-se muito popular e devido à sua timidez decide fugir de Vannes
e foi para um mosteiro beneditino em Saujon onde viveu durante seis anos e se
tornou monge. Continuando a sua viagem ele foi para uma região com muitas
grutas chamada Ascumbas. Instalou-se numa dessas grutas e aí viveu como ermita
durante dezassete anos dedicando a sua vida a rezar, meditar, louvar a Deus e a
evangelizar a população local. Nessa gruta podemos ver a fonte utilizada como
batistério, a cama de pedra e no centro da gruta, seu trono “banco” escavado na
rocha onde ele rezava e meditava.
Uma outra lenda refere que se uma
jovem estéril se sentar no trono “banco” onde Saint Émilion rezava, essa jovem
ficará curada e engravidará em menos de um ano.
Após a morte de Saint Émilion, em
767, desenvolveu-se um povoado em torno da gruta ao qual posteriormente se deu
o nome de Saint Émilion em memória ao monge beneditino Émilion.
Entretanto passámos pela Capela
da Trindade que foi construída em homenagem ao monge e a qual apresenta os seus
frescos bem preservados e em seguida entrámos nas catacumbas. Estas catacumbas
são uma forma muito antiga de cemitério subterrâneo em cujas paredes são
escavados “ninhos” mortuários.
Em seguida a visita decorreu na
Igreja Monolítica.
O nome monolítico da igreja
deve-se ao facto de ela ter sido escavada apenas numa só rocha. A Igreja
Monolítica não é a única do género na França, mas é a única pelas suas
dimensões, 38 metros de comprimento, 20 metros de largura e uma altura média da
nave de 12 metros. Vista do exterior é impossível imaginar o tamanho do
edifício. O campanário da igreja foi construído entre os séculos XII e XV e um
erro de cálculo fez com que todo o peso de 4,5 toneladas fosse suportado por
apenas três pilares e não quatro como previsto. Este erro pode ser constado
pelo orifício no tecto da igreja, por onde passavam as cordas para se tocar o
sino. Esse orifício é fora do centro. No ano de 1990 foram constatadas fissuras
no tecto da igreja que corria o risco de desabamento. A igreja foi então
classificada como um dos 100 patrimónios mais ameaçados do mundo. Novos estudos
permitiram aos cientistas de descobrir um outro problema dessa igreja, uma
infiltração de águas do lençol freático fragilizava os pilares de pedra
calcária. Descobriu-se através de escavações no subsolo que os monges que
construíram a igreja eram conscientes deste problema, e por isso construíram
uma rede de canais de drenagem. Esses canais entupiram-se com o passar dos
anos, e hoje depois de limpos funcionam como antes. Hoje, os suportes de metal
entretanto instalados ajudam a suportar o peso do campanário e a igreja não
corre mais o risco de desabamento. Actualmente algumas “janelas” no solo
permitem ver os drenos em funcionamento e as sucessivas camadas de piso que se
sucederam durante os séculos.
É nesta igreja monolítica que se
reúne a chamadas “Jurade” de Saint Émilion, confraria vinícola constituída de
viticultores da denominação de origem controlada de Saint Émilion. A “Jurade”
reúne-se duas vezes por ano para festas tradicionais: em Junho quando os
vinhedos florescem e em Setembro quando proclamam o início da colheita das
uvas.
Convém referir que o complexo subterrâneo de Saint Émilion é de cerca de 200 Kms de galerias já identificadas, formando um imenso labirinto que se estende por seis níveis abaixo da cidade.
Durante esta visita guiada as
fotografias são proibidas.
Igreja Monolítica e a Torre de Sino em Saint Émilion |
Terminada esta visita fomos ver a
Igreja Colegial e os seus claustros de estilo gótico romano, do século XII e
cuja construção continuou até ao século XVI, encontrando-se classificada como
Monumento Histórico. Os claustros formam um quadrado de trinta metros e cujas
galerias estão cobertas por moldura de madeira. Os claustros são suportados por
arcos arqueados apoiados por colunas duplas.
Claustros da Igreja Colegial de Saint Émilion |
Claustros da Igreja Colegial de Saint Émilion |
Por fim demos a visita por
efectuada e saímos por volta das 15,00 horas em direcção a Blaye onde chegámos
por volta das 16,00 horas.
Em Blaye fomos para a AS localizada no “Château Marquis de Vauban”, que é uma quinta vinícola e na
qual já se encontravam cerca de 13 autocaravanas. Esta área de serviço permite
o estacionamento e electricidade gratuitos durante 48 horas. Neste momento a
manutenção de águas não é possível ser efectuada por estar avariada, conforme
informação ali afixada.
AS do "Château Marquis de Vauban" em Blaye |
"Château Marquis de Vauban" em Blaye |
"Château Marquis de Vauban" em Blaye |
AS no "Château Marquis de Vauban" em Blaye |
AS no "Château Marquis de Vauban" em Blaye |
Depois de devidamente instalados
fomos até à cidade de Blaye onde passeámos um pouco.
Hotel de Ville de Blaye |
Em seguida fomos visitar
a fortaleza defensiva que foi construída no século XVII por Vauban com a
finalidade de controlar o acesso a Bordéus das invasões marítimas.
Fortaleza defensiva em Blaye |
Fortaleza defensiva em Blaye |
Fortaleza defensiva em Blaye |
Esta fortaleza defensiva está
aberta todo o ano com entrada gratuita e no seu interior encontram-se
instaladas diversas lojas desde artesanato a lojas de artes, restaurantes, um
hotel e um museu que nos mostra a história do local e do estuário do rio
Gironde. Também ali funciona o Posto de Turismo mas o mesmo já se encontrava
fechado pelo que não foi possível acedermos a qualquer informação turística nem
visitar a área subterrânea da fortaleza.
Desde 2008 que Blaye é
classificada pela Unesco na Lista de Património Mundial da Rede de Grandes
Sites Vauban.
Estacionamento e pernoita na AS do Château Marquis Vauban
(coordenadas N 45º 08’ 14” W 0º 39’ 54”)
Percurso de Gradignan a Saint Émilion, 57 Kms
Percurso de Saint Émilion a Blaye, 60 Kms
Percorridos no dia 117 Kms
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